4chan refuses to pay UK Online Safety Act fines, asks Trump admin to intervene

A plataforma de imagem 4chan, por meio de seu advogado, declarou que seus operadores se recusarão a pagar multas impostas sob a Lei de Segurança Online do Reino Unido (Online Safety Act). Esta posição marca um ponto de tensão entre a legislação britânica e a operação de plataformas digitais sediadas nos Estados Unidos, levantando questões sobre a jurisdição e a aplicação de leis nacionais no ambiente online global.

Preston Byrne, advogado do 4chan, afirmou à BBC que as notificações do Ofcom, o regulador de comunicações do Reino Unido, “não criam obrigações legais nos Estados Unidos”. Byrne descreveu a investigação do regulador britânico sobre o 4chan como parte de uma “campanha ilegal de assédio” contra empresas de tecnologia americanas. Ele enfatizou que “o 4chan não violou nenhuma lei nos Estados Unidos. Meu cliente não pagará nenhuma penalidade”. A declaração sublinha uma disputa fundamental sobre a extraterritorialidade das leis de segurança online.

A Lei de Segurança Online do Reino Unido e o Papel do Ofcom

A Lei de Segurança Online (Online Safety Act), aprovada no Reino Unido, representa um marco legislativo significativo com o objetivo de tornar o ambiente online mais seguro. A legislação impõe deveres a plataformas digitais e motores de busca para proteger seus usuários de conteúdo ilegal e prejudicial. O escopo da lei é amplo, abrangendo desde material de abuso sexual infantil e terrorismo até conteúdo que promove a automutilação e o ódio. A lei visa criar um ambiente online onde as empresas são responsabilizadas pela segurança de seus usuários, exigindo que implementem medidas robustas para identificar, remover e prevenir a disseminação de conteúdo proibido.

O Ofcom foi designado como o regulador responsável pela aplicação da Lei de Segurança Online. Suas responsabilidades incluem a elaboração de códigos de prática, a investigação de plataformas que possam estar em não conformidade e a imposição de penalidades. O regulador possui poderes substanciais, incluindo a capacidade de solicitar informações detalhadas sobre as operações das plataformas, suas políticas de moderação de conteúdo e as medidas de segurança implementadas. Em casos de não conformidade, o Ofcom pode emitir avisos, impor multas significativas – que podem chegar a bilhões de libras ou 10% do faturamento global anual da empresa, o que for maior – e até mesmo bloquear o acesso a serviços online no Reino Unido.

A legislação britânica é uma das mais abrangentes do mundo em termos de regulação de conteúdo online, e sua aplicação a plataformas internacionais como o 4chan testa os limites da soberania nacional no ciberespaço. A lei reflete uma crescente preocupação global com os danos causados por conteúdo online e a necessidade de responsabilizar as empresas de tecnologia por seu papel na moderação e prevenção de tais danos.

A Investigação do Ofcom sobre o 4chan

Em junho, o Ofcom anunciou a abertura de uma investigação formal sobre o 4chan. O objetivo da investigação é determinar se a plataforma está tomando as medidas necessárias para prevenir a hospedagem de conteúdo ilegal e para evitar que o site seja usado para cometer ou facilitar crimes. A natureza anônima e a política de moderação do 4chan têm sido objeto de escrutínio por parte de reguladores em diversas jurisdições, dada a sua reputação como um espaço onde conteúdo controverso e, por vezes, ilegal pode ser compartilhado.

A investigação do Ofcom se concentra em saber se o 4chan cumpre seus deveres de segurança, conforme estipulado pela Lei de Segurança Online. Isso inclui a avaliação das políticas e processos da plataforma para lidar com conteúdo ilegal, como material de abuso sexual infantil, conteúdo terrorista e outras formas de material proibido. O regulador busca entender as salvaguardas que o 4chan tem em vigor para proteger seus usuários, especialmente os mais vulneráveis, de exposição a tais conteúdos e de serem alvo de atividades criminosas facilitadas pela plataforma.

Em 13 de agosto, o Ofcom divulgou que emitiu uma “notificação provisória de contravenção” à 4chan Community Support LLC. Esta notificação foi emitida especificamente pela falha da empresa em cumprir dois pedidos de informação feitos pelo regulador. A recusa em fornecer as informações solicitadas é vista pelo Ofcom como uma violação dos deveres impostos pela Lei de Segurança Online, que exige que as plataformas cooperem com as investigações regulatórias. A notificação provisória indica que o Ofcom continua a investigar se o 4chan “falhou, ou está falhando, em cumprir… os deveres de proteger seus usuários de conteúdo ilegal”.

A emissão de uma notificação provisória é um passo formal no processo de aplicação da lei. Ela sinaliza que o Ofcom encontrou evidências preliminares de não conformidade e está avançando com a investigação. A falha em responder a pedidos de informação é uma infração séria, pois impede o regulador de avaliar adequadamente as práticas de segurança de uma plataforma. Este desenvolvimento coloca o 4chan em uma posição de confronto direto com o regulador britânico, com potenciais consequências legais e financeiras significativas.

A Posição do 4chan e o Desafio Jurisdicional

A recusa do 4chan em cooperar com o Ofcom e em reconhecer a validade das multas britânicas baseia-se em um argumento de jurisdição. Preston Byrne, advogado da plataforma, argumenta que, como uma empresa sediada nos Estados Unidos, o 4chan não está sujeito às leis do Reino Unido, a menos que haja uma base legal clara para a aplicação extraterritorial. A declaração de que as notificações do Ofcom “não criam obrigações legais nos Estados Unidos” reflete a visão de que a soberania legal de um país não se estende automaticamente a entidades operando em outras jurisdições, mesmo que seus serviços sejam acessíveis globalmente.

Este desafio jurisdicional é central para o debate sobre a regulação da internet. A natureza sem fronteiras da internet permite que plataformas operem globalmente, mas as leis são tradicionalmente concebidas dentro de fronteiras nacionais. O 4chan argumenta que, ao não violar as leis dos EUA, onde está sediado, não deve ser penalizado por leis estrangeiras. Esta posição levanta questões complexas sobre como os países podem efetivamente regular o conteúdo online quando as plataformas estão localizadas em diferentes jurisdições e operam sob diferentes quadros legais.

A alegação de que a investigação do Ofcom é uma “campanha ilegal de assédio” sugere que o 4chan vê as ações do regulador britânico como uma tentativa indevida de impor sua autoridade sobre uma entidade estrangeira. A plataforma e seus representantes podem argumentar que tais ações criam um precedente perigoso, onde qualquer país poderia tentar impor suas leis a empresas de tecnologia em qualquer lugar do mundo, potencialmente levando a um mosaico de regulamentações conflitantes e onerosas.

A solicitação do 4chan para que a administração Trump intervenha no assunto destaca a dimensão política e diplomática desta disputa. Ao buscar o apoio do governo dos EUA, o 4chan tenta elevar a questão de uma disputa regulatória para um nível de confronto entre estados. Tal intervenção, se ocorresse, poderia envolver discussões sobre acordos de cooperação internacional, tratados de extradição ou até mesmo medidas de retaliação comercial, dependendo da gravidade da situação. A busca por apoio governamental sublinha a seriedade com que o 4chan encara a ameaça das multas e a potencial imposição da Lei de Segurança Online do Reino Unido.

Desafios da Regulação Digital Global

O caso do 4chan e a Lei de Segurança Online do Reino Unido ilustram os desafios inerentes à regulação de plataformas digitais em um mundo interconectado. A internet, por sua própria natureza, transcende fronteiras geográficas, enquanto as leis e os reguladores operam dentro de jurisdições nacionais. Essa dicotomia cria um “déficit de governança” onde as ações de uma plataforma em um país podem ter impactos significativos em outro, mas a capacidade de um regulador nacional de impor suas leis a uma entidade estrangeira é frequentemente limitada.

A questão da jurisdição é um ponto de discórdia constante. Reguladores em todo o mundo estão buscando maneiras de proteger seus cidadãos online, mas enfrentam a resistência de empresas que argumentam que não podem ser submetidas a todas as leis de todos os países onde seus serviços são acessados. Isso leva a um cenário complexo onde as empresas podem ser forçadas a navegar por uma miríade de regulamentações, algumas das quais podem ser contraditórias ou excessivamente onerosas.

O caso do 4chan pode servir como um teste para a eficácia da Lei de Segurança Online do Reino Unido e para a capacidade do Ofcom de aplicar suas disposições a plataformas internacionais. Se o 4chan conseguir resistir às multas e aos pedidos de informação, isso poderá enfraquecer a capacidade de outros países de regular plataformas digitais estrangeiras. Por outro lado, se o Ofcom for bem-sucedido em sua aplicação, isso poderá estabelecer um precedente importante para a aplicação extraterritorial de leis de segurança online.

A disputa também destaca a necessidade de cooperação internacional e harmonização de leis. Muitos especialistas argumentam que uma abordagem fragmentada, onde cada país tenta impor suas próprias leis, é insustentável a longo prazo. Em vez disso, são necessários acordos internacionais e padrões globais para a moderação de conteúdo e a segurança online, a fim de criar um ambiente digital mais seguro e equitativo para todos.

O 4chan: Contexto e Reputação

O 4chan é um imageboard anônimo que foi lançado em 2003. A plataforma permite que os usuários postem imagens e comentários, geralmente sem a necessidade de registro ou identificação. Essa característica de anonimato tem sido um pilar de sua cultura, permitindo discussões abertas e, por vezes, controversas. Ao longo dos anos, o 4chan ganhou uma reputação por ser um centro de memes da internet, cultura subversiva e, em alguns casos, conteúdo chocante e ilegal.

A estrutura do 4chan, com seus fóruns temáticos (“boards”) e a natureza efêmera de muitas de suas postagens (que são arquivadas ou excluídas após um certo tempo ou número de respostas), contribui para a dificuldade de moderação e rastreamento de conteúdo. Embora o site tenha regras contra certos tipos de conteúdo, a aplicação dessas regras tem sido um desafio, dada a vasta quantidade de material gerado pelos usuários e a cultura de anonimato.

A reputação do 4chan como um local onde conteúdo ilegal e prejudicial pode ser encontrado ou facilitado é um dos principais motivos pelos quais ele se tornou um alvo para reguladores como o Ofcom. A plataforma tem sido associada a incidentes de assédio online, disseminação de material extremista e, em casos mais graves, a coordenação de atividades ilegais. Essa história torna o 4chan um caso de estudo complexo para a aplicação de leis de segurança online que visam proteger os usuários de danos.

Próximos Passos na Disputa

A notificação provisória de contravenção emitida pelo Ofcom é um passo inicial em um processo que pode ser longo e complexo. Após a emissão desta notificação, o Ofcom continuará sua investigação para determinar se o 4chan realmente falhou em cumprir seus deveres sob a Lei de Segurança Online. O 4chan terá a oportunidade de responder formalmente às alegações do Ofcom e apresentar sua defesa, incluindo seus argumentos sobre a falta de jurisdição.

Se o Ofcom concluir que o 4chan está em não conformidade, o regulador poderá emitir uma notificação final de contravenção e impor multas. A recusa do 4chan em pagar essas multas levaria a uma batalha legal, provavelmente nos tribunais do Reino Unido. O Ofcom teria que buscar a execução das multas, o que poderia envolver processos legais nos Estados Unidos, dada a sede da empresa.

A intervenção do governo dos EUA, conforme solicitado pelo 4chan, adicionaria uma camada diplomática à disputa. Isso poderia levar a discussões entre os governos britânico e americano sobre a aplicação de leis nacionais a empresas de tecnologia globais. O resultado deste caso terá implicações significativas para a forma como as leis de segurança online são aplicadas internacionalmente e para o futuro da regulação da internet.

Fonte: https://arstechnica.com/tech-policy/2025/08/4chan-refuses-to-pay-uk-online-safety-act-fines-asks-trump-admin-to-intervene/

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