CATEGORIA: Política
DATA: 01/08/2025 – 10h00
TÍTULO: Donald Trump Pressiona ABC e NBC Após Acordo com CBS e Imposição de Monitor de Viés
SLUG: donald-trump-pressiona-abc-nbc-apos-acordo-cbs-monitor-vies
CONTEÚDO:
O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, direcionou suas críticas e demandas para as emissoras ABC e NBC, logo após a conclusão de um acordo significativo envolvendo a CBS News. A movimentação ocorre em um contexto onde a Paramount, proprietária da CBS, recentemente finalizou um acerto financeiro e concordou com a instalação de um “monitor de viés” para obter a aprovação regulatória de uma fusão bilionária.
Em uma publicação na plataforma Truth Social, divulgada na noite anterior, Trump questionou a ausência de pagamentos de “taxas de licença” por parte da ABC e da NBC. Ele classificou as duas emissoras como “FAKE NEWS” e “duas das piores e mais tendenciosas redes em qualquer lugar do mundo”. O ex-presidente argumentou que as emissoras deveriam ter suas licenças revogadas devido à cobertura que considera “injusta” em relação a republicanos e conservadores. Como alternativa, Trump sugeriu que, no mínimo, elas deveriam “pagar MUITO” pelo privilégio de utilizar as “ondas de rádio mais valiosas em qualquer lugar e a qualquer momento”. Ele concluiu sua mensagem afirmando que o “jornalismo desonesto não deve ser recompensado, deve ser encerrado”.
Contexto das Demandas e Histórico de Ameaças
As declarações de Donald Trump sobre a revogação de licenças de emissoras não são inéditas em sua trajetória política. Ao longo de sua carreira pública, ele frequentemente expressou descontentamento com a cobertura da mídia, ameaçando publicamente a retirada de licenças de transmissão para veículos que considerava críticos ou tendenciosos. No entanto, até os recentes desenvolvimentos envolvendo a CBS, nenhuma dessas ameaças havia resultado em revogações efetivas de licenças de radiodifusão por parte de órgãos reguladores.
A capacidade de conceder e revogar licenças de transmissão nos Estados Unidos é uma atribuição da Comissão Federal de Comunicações (FCC), um órgão regulador independente do governo federal. A FCC é responsável por supervisionar as comunicações por rádio, televisão, fio, satélite e cabo em todo o país. As licenças de transmissão são concedidas para o uso do espectro público de ondas de rádio, um recurso limitado e considerado de propriedade pública. As emissoras que detêm essas licenças operam sob a condição de servir ao interesse público, um conceito que tem sido objeto de interpretações variadas e debates ao longo da história regulatória americana.
A exigência de “taxas de licença” mencionada por Trump para ABC e NBC também levanta questões sobre o modelo de financiamento e operação das emissoras nos EUA. Tradicionalmente, as emissoras comerciais geram receita através de publicidade, e não por meio de taxas de licença anuais pagas ao governo pelo uso do espectro, como ocorre em alguns outros países ou em modelos de licenciamento específicos. A proposta de Trump, portanto, representa uma mudança significativa em relação às práticas estabelecidas e à estrutura econômica da radiodifusão comercial americana, sugerindo uma nova forma de tributação ou compensação pelo uso de um bem público.
O Precedente da CBS: Acordo, Fusão e Monitor de Viés
Os acontecimentos recentes envolvendo a CBS News e sua controladora, Paramount, são apontados como um exemplo de como o governo pode exercer influência sobre as operações de organizações de notícias. Em julho de 2025, a Paramount chegou a um acordo de US$ 16 milhões com Donald Trump. Este acerto financeiro foi parte de uma resolução de um processo judicial movido pelo ex-presidente, cujos detalhes específicos do litígio não foram amplamente divulgados no contexto imediato da notícia.
Paralelamente ao acordo, a Paramount buscava a aprovação da Comissão Federal de Comunicações (FCC) para uma fusão de US$ 8 bilhões com a Skydance. A aprovação de fusões de grande porte no setor de comunicações é uma das atribuições cruciais da FCC, que avalia se tais transações servem ao interesse público e se estão em conformidade com as regulamentações antitruste e de concorrência. A obtenção dessa aprovação é vital para a concretização de grandes negócios no setor de mídia e entretenimento.
Para obter a luz verde da FCC para a fusão, a Paramount concordou em instalar um “monitor de viés” na CBS. A natureza exata e o funcionamento desse monitor não foram detalhados no comunicado original, mas a sua imposição como condição para a aprovação regulatória de uma fusão bilionária representa uma medida sem precedentes no controle de conteúdo jornalístico por parte de um órgão regulador federal, especialmente sob a influência de um ex-presidente. A decisão de aceitar um “monitor de viés” pode ser interpretada como uma concessão significativa por parte da Paramount para garantir a concretização de sua fusão estratégica com a Skydance, demonstrando a intersecção entre interesses comerciais e pressões políticas.
A exigência de tal monitor, justificada pela FCC em documentos anteriores, sugere uma tentativa de abordar preocupações sobre a imparcialidade da cobertura jornalística, ecoando as críticas frequentemente levantadas por Donald Trump. Este desenvolvimento ilustra um mecanismo pelo qual a influência governamental pode se manifestar, não necessariamente através de revogações diretas de licenças, mas por meio de condições impostas em processos regulatórios cruciais que afetam a viabilidade e a estrutura de grandes conglomerados de mídia.
Implicações para ABC e NBC
Com o desfecho do caso CBS, Donald Trump agora volta sua atenção para a ABC e a NBC. Suas declarações na Truth Social indicam uma intenção de aplicar pressão semelhante ou até mais severa sobre essas redes. A base de suas críticas permanece a mesma: a percepção de uma cobertura “falsa” e “tendenciosa” que desfavorece republicanos e conservadores, alinhando-se a uma retórica consistente de desconfiança em relação a grandes veículos de comunicação.
A exigência de “taxas de licença” e a ameaça de revogação de licenças para ABC e NBC, embora não tenham precedentes diretos em termos de implementação, ganham um novo peso à luz do que ocorreu com a CBS. O caso da CBS demonstra que, mesmo sem uma revogação direta de licença, a influência governamental pode se manifestar através de condições impostas em processos regulatórios cruciais, como aprovações de fusões, que podem ter um impacto financeiro e operacional substancial nas empresas de mídia.
A situação coloca em destaque o contínuo embate entre figuras políticas e a mídia, especialmente no que tange à liberdade de imprensa e ao papel dos órgãos reguladores. As demandas de Trump levantam questões sobre os limites da intervenção governamental na operação de veículos de comunicação e sobre o impacto de tais pressões na independência editorial. A indústria da radiodifusão nos Estados Unidos, incluindo as grandes redes como ABC e NBC, opera sob um complexo conjunto de leis e regulamentos que visam equilibrar a liberdade de expressão com a responsabilidade pública.
As ameaças de Trump, agora reforçadas pelo resultado do caso CBS, indicam uma escalada na tentativa de moldar a cobertura da mídia através de mecanismos regulatórios e financeiros. O cenário atual sugere que as emissoras podem enfrentar um período de maior escrutínio e pressão, especialmente em um ambiente político polarizado. A forma como a ABC e a NBC responderão a essas novas demandas e ameaças, e como a FCC poderá se posicionar em relação a futuras ações, será um ponto de observação crucial para o futuro do jornalismo e da regulamentação da mídia nos Estados Unidos.
A continuidade das pressões exercidas por Donald Trump sobre as grandes redes de televisão, exemplificada pelo recente acordo com a CBS e as novas exigências para ABC e NBC, sublinha a persistência de um debate fundamental sobre a imparcialidade da mídia e os limites da influência política sobre o setor de comunicações. A evolução desses eventos poderá redefinir as relações entre o poder político e a imprensa no país, impactando a forma como as notícias são produzidas e distribuídas.
Com informações de Ars Technica
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