Two men fell gravely ill last year; their infections link to deaths in the ’80s

Uma descoberta incomum e preocupante emergiu no estado da Geórgia, nos Estados Unidos, envolvendo uma bactéria do solo potencialmente letal. Quatro homens, todos residentes no mesmo condado, foram diagnosticados com infecções causadas pela Burkholderia pseudomallei, um microrganismo que normalmente habita regiões tropicais e subtropicais, com maior prevalência no Sudeste Asiático e no norte da Austrália. A singularidade desses casos reside não apenas na localização geográfica inesperada, mas também na linha do tempo das infecções, que se estende por décadas, e na ligação genética entre as cepas bacterianas.

Os casos foram conectados por uma combinação de fatores. Além de compartilharem o mesmo condado de residência, o sequenciamento de genoma completo revelou que as bactérias responsáveis pelas quatro infecções eram altamente relacionadas. Essa similaridade genética sugere uma fonte comum e localizada para as contaminações, em vez de eventos de exposição independentes e geograficamente dispersos. A natureza da Burkholderia pseudomallei, que não tende a se espalhar facilmente de pessoa para pessoa, reforça a hipótese de uma origem ambiental compartilhada.

A cronologia das infecções adiciona uma camada de complexidade ao mistério. O primeiro caso foi registrado em 1983, seguido por outro em 1989. Os dois casos mais recentes ocorreram com apenas um dia de diferença em setembro de 2024. Essa abrangência temporal, de mais de quarenta anos, levanta questões sobre a persistência da bactéria no ambiente local.

Nenhum dos homens havia viajado recentemente para áreas onde a bactéria é endêmica, o que descartou a importação da infecção. Apenas um dos indivíduos tinha histórico de viagem para uma região endêmica, mas essa viagem havia ocorrido décadas antes de sua infecção, tornando improvável que fosse a fonte direta da contaminação recente.

A Bactéria Burkholderia pseudomallei e a Melioidose

A Burkholderia pseudomallei é o agente causador da melioidose, uma doença infecciosa grave que pode afetar humanos e animais. Conhecida também como “doença de Whitmore”, a melioidose é caracterizada por uma ampla gama de manifestações clínicas, que variam de infecções localizadas e abscessos a pneumonia grave, sepse e infecções disseminadas que podem ser fatais. A taxa de mortalidade da melioidose pode ser alta, especialmente se não for diagnosticada e tratada precocemente com antibióticos apropriados e por um período prolongado.

A bactéria é encontrada naturalmente no solo e na água, especialmente em climas tropicais e subtropicais. A infecção em humanos geralmente ocorre por contato direto com solo ou água contaminados, seja através de feridas na pele, inalação de poeira ou gotículas de água contendo a bactéria, ou ingestão de água contaminada. Indivíduos com condições de saúde subjacentes, como diabetes, doença renal crônica, doença pulmonar crônica ou imunossupressão, são particularmente vulneráveis a desenvolver formas graves da doença.

A presença da Burkholderia pseudopallei em regiões não endêmicas é rara e geralmente associada a viagens. A detecção de casos adquiridos localmente na Geórgia, sem histórico de viagem relevante, representa uma mudança significativa na compreensão da distribuição geográfica potencial desse patógeno.

O Estudo e a Hipótese do Furacão Helene

Em um estudo recentemente publicado na revista Emerging Infectious Diseases, pesquisadores de saúde estaduais e federais apresentaram suas descobertas e a hipótese para a presença da bactéria na Geórgia. A equipe de investigação sugeriu que os quatro casos interligados indicam que a Burkholderia pseudomallei tem estado presente na área da Geórgia durante todo o período, possivelmente latente no ambiente por décadas.

A reemergência recente da bactéria, manifestada pelos dois casos de 2024, é atribuída a um evento ambiental específico: o Furacão Helene. Furacões e outras tempestades severas são conhecidos por causar inundações extensas e perturbação do solo. Essas condições podem trazer bactérias do solo, como a Burkholderia pseudomallei, para a superfície, aumentando o risco de exposição humana. A água estagnada e o solo úmido após um furacão criam um ambiente propício para a proliferação e dispersão de microrganismos do solo.

A hipótese é que o Furacão Helene, ao impactar a região, alterou as condições ambientais de tal forma que a bactéria, que já estava presente no solo local, tornou-se mais acessível e capaz de causar infecções. Essa ligação entre eventos climáticos extremos e a emergência de patógenos é um campo crescente de estudo e preocupação em saúde pública.

Implicações para a Saúde Pública e Conscientização

A identificação de um foco endêmico de Burkholderia pseudomallei em uma região não tropical como a Geórgia tem implicações importantes para a saúde pública. Primeiramente, exige uma reavaliação dos protocolos de diagnóstico para casos de infecção bacteriana grave, especialmente aqueles com sintomas atípicos ou sem uma causa óbvia, em pacientes sem histórico de viagem a áreas endêmicas conhecidas. Os profissionais de saúde na Geórgia e em estados vizinhos precisam estar cientes da possibilidade de melioidose e considerar essa doença no diagnóstico diferencial.

A vigilância epidemiológica e ambiental torna-se crucial. As autoridades de saúde pública podem precisar implementar programas de monitoramento para determinar a extensão da contaminação ambiental pela bactéria no condado afetado e, potencialmente, em áreas adjacentes. Isso pode incluir a coleta e análise de amostras de solo e água para identificar a presença da Burkholderia pseudomallei e mapear sua distribuição.

Para os residentes da área afetada, a conscientização sobre os riscos e as medidas preventivas é fundamental. Embora a bactéria não se espalhe facilmente de pessoa para pessoa, o contato com solo e água contaminados é a principal via de infecção. Recomendações gerais podem incluir evitar o contato direto com solo e água lamacentos, especialmente após fortes chuvas ou inundações. Pessoas com feridas abertas devem protegê-las ao trabalhar em jardins ou em ambientes externos. Indivíduos com condições de saúde subjacentes que os tornam mais vulneráveis devem ser particularmente cautelosos.

A pesquisa contínua é essencial para entender melhor como a Burkholderia pseudomallei conseguiu se estabelecer e persistir no ambiente da Geórgia por tanto tempo. Estudos genéticos adicionais podem fornecer informações sobre a origem da cepa e como ela se adaptou a um clima diferente de seu habitat natural. A compreensão desses mecanismos é vital para desenvolver estratégias eficazes de prevenção e controle.

A descoberta na Geórgia serve como um lembrete da capacidade dos microrganismos de se adaptar e emergir em novos ambientes, muitas vezes impulsionados por mudanças climáticas e eventos ambientais. A colaboração entre agências de saúde pública, pesquisadores e a comunidade é indispensável para mitigar os riscos associados a patógenos emergentes e reemergentes.

Fonte: https://arstechnica.com/health/2025/08/two-men-fell-gravely-ill-last-year-their-infections-link-to-deaths-in-the-80s/

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