Como 'obstrução sistemática' feita por Israel levou à crise de fome em Gaza

Agências humanitárias têm consistentemente reportado que Israel tem obstruído sistematicamente a entrada de alimentos em Gaza. Esta obstrução, conforme detalhado por diversas organizações internacionais, é um fator central na emergência de uma crise de fome generalizada na região, afetando severamente a população civil.

A situação humanitária em Gaza tem sido descrita por entidades como as Nações Unidas (ONU) e o Programa Alimentar Mundial (PAM) como catastrófica. Antes dos eventos recentes, a população de Gaza já enfrentava desafios significativos em termos de segurança alimentar, mas as restrições intensificadas e os conflitos subsequentes agravaram drasticamente o cenário. Relatórios indicam que a capacidade de acesso a alimentos, água potável, medicamentos e outros bens essenciais foi severamente comprometida, levando a uma dependência quase total da ajuda externa.

Organizações como o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) e a Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras para os Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) têm documentado os desafios diários enfrentados na tentativa de entregar suprimentos vitais. A entrada de caminhões de ajuda humanitária é um ponto crítico, com o número de veículos permitidos a entrar em Gaza sendo consistentemente inferior ao mínimo necessário para atender às necessidades básicas da população, conforme estimativas das próprias agências.

Os procedimentos de inspeção nos pontos de passagem são frequentemente citados como um dos principais obstáculos. Agências humanitárias relatam que esses processos são demorados e imprevisíveis, resultando em longas filas de caminhões e atrasos significativos na entrega de suprimentos. Além disso, a lista de itens considerados de “duplo uso” – que poderiam ter aplicações militares e civis – é extensa e, segundo as agências, muitas vezes inclui bens essenciais para a vida civil, como equipamentos médicos, peças de reposição para infraestruturas de água e saneamento, e até mesmo certos tipos de alimentos e materiais de abrigo.

A recusa de entrada de itens específicos, sob a justificativa de “duplo uso”, tem um impacto direto na capacidade das organizações de fornecer assistência abrangente. Por exemplo, a entrada de geradores e peças para sistemas de purificação de água é frequentemente dificultada, comprometendo o acesso à água potável, um componente essencial para a saúde e a prevenção de doenças, que por sua vez afetam a capacidade do corpo de absorver nutrientes.

A infraestrutura de distribuição dentro de Gaza também foi severamente afetada. Armazéns foram danificados, rotas de transporte internas foram comprometidas e a escassez de combustível dificulta a movimentação dos poucos suprimentos que conseguem entrar. Essas condições, conforme apontado por relatórios da ONU, criam um gargalo logístico que impede que a ajuda chegue de forma eficaz e equitativa a todas as áreas necessitadas, especialmente no norte de Gaza, onde o acesso é particularmente desafiador.

A consequência direta dessas obstruções é uma escassez aguda de alimentos. Mercados locais estão desabastecidos ou operam com preços exorbitantes, tornando os poucos alimentos disponíveis inacessíveis para a maioria da população, que já enfrenta altos níveis de desemprego e pobreza. O Programa Alimentar Mundial (PAM) tem alertado repetidamente sobre a iminência de uma fome generalizada, com dados indicando que a grande maioria da população de Gaza está em níveis de insegurança alimentar de crise ou emergência.

A desnutrição, especialmente entre crianças pequenas, mulheres grávidas e lactantes, e idosos, tornou-se uma preocupação crescente. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) tem documentado um aumento alarmante nos casos de desnutrição aguda e emagrecimento severo em crianças, com hospitais relatando um número crescente de internações relacionadas à fome. A falta de alimentos nutritivos e a propagação de doenças devido à falta de saneamento e água potável criam um ciclo vicioso que agrava ainda mais a saúde das populações vulneráveis.

Relatórios de organizações médicas e de saúde pública em Gaza, apoiados por agências internacionais, indicam que a falta de alimentos está levando a um aumento de doenças relacionadas à desnutrição, enfraquecimento do sistema imunológico e maior suscetibilidade a infecções. A escassez de alimentos ricos em vitaminas e minerais essenciais contribui para deficiências nutricionais que têm impactos de longo prazo no desenvolvimento físico e cognitivo das crianças.

A comunidade internacional, através de diversas declarações e resoluções, tem reiterado a necessidade urgente de acesso humanitário irrestrito a Gaza. Secretários-gerais da ONU e chefes de agências humanitárias têm apelado repetidamente para a abertura de mais pontos de passagem e para a simplificação dos procedimentos de inspeção, a fim de permitir que a ajuda chegue em escala suficiente para evitar uma catástrofe humanitária ainda maior. No entanto, as agências continuam a relatar que as restrições persistem, limitando severamente a capacidade de resposta.

A destruição da infraestrutura agrícola local e das cadeias de abastecimento de alimentos dentro de Gaza também contribui para a crise. A capacidade de produzir alimentos localmente foi drasticamente reduzida devido aos conflitos, à falta de acesso a insumos agrícolas e à destruição de terras cultiváveis. Isso aumenta a dependência da ajuda externa, tornando as obstruções na entrada de alimentos ainda mais impactantes.

A falta de combustível, que é essencial para o funcionamento de padarias, bombas de água e hospitais, agrava a crise alimentar. Sem combustível, a produção de pão, um alimento básico, é interrompida, e a distribuição de água potável é comprometida, forçando as pessoas a consumir água não segura, o que leva a doenças diarreicas e desidratação, especialmente perigosas para crianças e idosos.

Em resumo, as agências humanitárias têm fornecido um corpo consistente de evidências e relatórios que descrevem uma obstrução sistemática à entrada de alimentos e outros bens essenciais em Gaza. Essas restrições, que incluem procedimentos de inspeção prolongados, listas de itens proibidos e limitações no número de caminhões, têm sido diretamente associadas à emergência de uma crise de fome severa, com consequências devastadoras para a saúde e o bem-estar da população civil, conforme documentado por organizações internacionais e humanitárias.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cp37p01dp9po?at_medium=RSS&at_campaign=rss

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