Betel nuts have been giving people a buzz for over 4,000 years

A prática de mascar noz de areca, frequentemente combinada com folha de betel e cal, é um costume milenar que tem sido parte integrante de diversas culturas no Sudeste Asiático, Sul da Ásia e Oceania. Evidências arqueológicas e históricas indicam que esta prática remonta a mais de 4.000 anos, revelando uma longa e complexa história de interação humana com substâncias psicoativas naturais.

A noz de areca, fruto da palmeira de areca (Areca catechu), é o componente central desta mistura. Quando mastigada, ela libera compostos psicoativos, notavelmente a arecolina, que induzem uma série de efeitos no usuário. Estes incluem um aumento da atenção e energia, uma sensação de euforia e, paradoxalmente, um estado de relaxamento. A combinação tradicional geralmente envolve envolver a noz de areca em uma folha de betel (Piper betle), à qual se adiciona uma pasta de cal feita de conchas moídas ou corais, dependendo da região. Outros ingredientes, como especiarias ou tabaco, podem ser incorporados para alterar o sabor ou os efeitos.

Descobertas Arqueológicas e Evidências Dentárias

A longevidade da prática de mascar noz de areca é corroborada por descobertas arqueológicas em várias partes do mundo. Uma das evidências mais distintivas deixadas pelos mastigadores de noz de areca são as manchas vermelhas características nos dentes. Estas manchas resultam da reação dos taninos presentes na noz de areca com a cal e a saliva, criando um pigmento que se adere ao esmalte dentário e à dentina.

Em sítios arqueológicos, a presença ou ausência dessas manchas dentárias serve como um indicador crucial para os pesquisadores. Por exemplo, quando o arqueólogo Piyawit Moonkham, da Universidade de Chiang Mai, na Tailândia, escavou esqueletos de 4.000 anos no sítio funerário da Idade do Bronze de Nong Ratchawat, a ausência de manchas vermelhas nos dentes dos indivíduos sugeriu que eles não eram mastigadores de noz de areca. Esta observação específica em Nong Ratchawat oferece um contraponto interessante à ampla evidência de uso antigo da noz de areca em outras regiões, indicando que a prática pode não ter sido universalmente difundida ou adotada em todas as comunidades da mesma forma ou no mesmo período.

Outras formas de evidência arqueológica incluem resíduos químicos encontrados em vasos de cerâmica, ferramentas associadas à preparação da noz de areca e até mesmo representações artísticas da prática em artefatos antigos. Essas descobertas coletivas ajudam a traçar a disseminação geográfica e a evolução temporal do mascar de noz de areca, fornecendo insights sobre as dietas, rituais e costumes sociais de populações antigas.

A Palmeira de Areca e o Preparo Tradicional

A palmeira de areca, uma planta tropical esguia e alta, é nativa de grandes partes da Ásia tropical e do Pacífico. Seus frutos, as nozes de areca, são colhidos e preparados de várias maneiras antes do consumo. Geralmente, as nozes são fatiadas ou picadas. A folha de betel, por sua vez, não é a fonte dos efeitos psicoativos, mas atua como um invólucro e contém eugenol, que pode intensificar a absorção da arecolina e adicionar um sabor picante.

A cal, um componente essencial da mistura, desempenha um papel químico vital. Ela eleva o pH da boca, o que facilita a liberação da arecolina da noz de areca, tornando-a mais biodisponível e intensificando os efeitos. A combinação desses três elementos – noz de areca, folha de betel e cal – é conhecida como “quid de betel” ou “paan” em algumas regiões.

Efeitos Fisiológicos e Psicoativos

Os efeitos do mascar de noz de areca são atribuídos principalmente à arecolina, um alcaloide colinomimético. Após a mastigação, a arecolina é rapidamente absorvida através da mucosa oral e entra na corrente sanguínea, atuando no sistema nervoso central e periférico. Os usuários relatam uma sensação inicial de calor no corpo, seguida por um aumento da energia e da capacidade de concentração. A euforia leve e uma sensação de bem-estar também são comumente descritas.

Além da arecolina, a noz de areca contém outros alcaloides como arecaidina, guvacina e guvacolina, que também contribuem para os efeitos gerais. Estes compostos podem influenciar a liberação de neurotransmissores como a dopamina e a noradrenalina, explicando os efeitos estimulantes e eufóricos. A prática também pode induzir um aumento da salivação, resultando na necessidade de cuspir o excesso de saliva tingida de vermelho, uma característica visível em comunidades onde a prática é comum.

Significado Cultural e Social

Ao longo de milênios, o mascar de noz de areca transcendeu a mera ingestão de uma substância psicoativa para se tornar um elemento profundamente enraizado em rituais, costumes e interações sociais. Em muitas culturas, oferecer noz de areca a um convidado é um sinal de hospitalidade e respeito, semelhante à oferta de chá ou café em outras partes do mundo. É frequentemente consumido em reuniões sociais, cerimônias religiosas, casamentos e festivais, servindo como um facilitador da coesão social e da comunicação.

Em algumas sociedades, a noz de areca também tem sido associada a status social ou rituais de passagem. Por exemplo, em certas culturas do Pacífico, a noz de areca era usada em rituais de iniciação para jovens ou como um símbolo de aliança e acordo em negociações. A sua presença em contextos funerários antigos, como evidenciado por achados arqueológicos, sugere que a noz de areca também desempenhava um papel em crenças sobre a vida após a morte ou como oferenda aos ancestrais.

A prática também está ligada a crenças tradicionais e medicinais em algumas comunidades, onde é considerada um remédio para certas doenças ou um auxílio digestivo, embora essas alegações não sejam amplamente apoiadas pela ciência moderna.

Implicações para a Saúde

Apesar de sua longa história e significado cultural, o mascar de noz de areca está associado a sérias preocupações de saúde, que se tornaram mais evidentes com a pesquisa científica moderna. A principal preocupação é o risco aumentado de câncer bucal e outras condições pré-cancerosas. A arecolina e outros alcaloides presentes na noz de areca são considerados carcinogênicos, e a cal adicionada à mistura é altamente alcalina e pode causar irritação e danos à mucosa oral.

As condições de saúde bucal frequentemente observadas em mastigadores crônicos incluem:

  • Fibrose submucosa oral (FSMO): Uma condição progressiva e irreversível que causa rigidez e cicatrização dos tecidos moles da boca, levando à dificuldade de abrir a boca, falar e comer. É considerada uma condição pré-cancerosa com alto potencial de malignidade.
  • Leucoplasia: Manchas brancas ou acinzentadas na boca que não podem ser removidas por raspagem. Embora nem todas as leucoplasias sejam malignas, algumas podem se transformar em câncer.
  • Câncer de células escamosas da boca: O tipo mais comum de câncer bucal, que pode afetar a língua, bochechas, gengivas e outras partes da boca.
  • Doença periodontal: Inflamação e infecção das gengivas e dos ossos que sustentam os dentes, levando à perda dentária.
  • Cáries dentárias: Embora a cal possa ter um efeito antibacteriano, a natureza abrasiva da noz de areca e a presença de açúcares em algumas preparações podem contribuir para a cárie.

Além dos problemas bucais, o uso crônico de noz de areca também tem sido associado a outros problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e problemas reprodutivos. A arecolina também pode causar dependência, levando a sintomas de abstinência quando o uso é interrompido, como ansiedade, irritabilidade e dificuldade de concentração.

A Prática no Contexto Contemporâneo

Hoje, o mascar de noz de areca continua sendo uma prática difundida em muitas partes do mundo, especialmente em áreas rurais e entre populações mais velhas. No entanto, em algumas regiões, há uma diminuição gradual da prática, impulsionada por campanhas de saúde pública que visam conscientizar sobre os riscos associados ao seu consumo. Governos e organizações de saúde têm implementado programas educacionais e, em alguns casos, restrições à venda e publicidade de produtos de noz de areca.

Apesar dos esforços de saúde pública, a noz de areca permanece culturalmente significativa e economicamente importante para muitas comunidades. A sua produção e comércio sustentam a subsistência de milhões de pessoas. A persistência da prática, mesmo diante das preocupações com a saúde, reflete a profundidade de suas raízes culturais e a complexidade de mudar comportamentos arraigados por milênios.

A história da noz de areca, desde suas origens antigas até seu status atual, é um testemunho da duradoura relação entre os seres humanos e as plantas. As evidências arqueológicas continuam a revelar novos aspectos de seu passado, enquanto a pesquisa científica moderna busca entender e mitigar seus impactos na saúde, tudo isso enquanto a prática continua a ser uma parte viva do tecido cultural de muitas sociedades.

Fonte: https://arstechnica.com/science/2025/08/ancient-teeth-show-people-were-getting-high-off-betel-nuts-4000-years-ago/

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