Quais países reconhecem o Estado Palestino e o que isso significa para sua possível criação

O reconhecimento do Estado da Palestina por nações soberanas é um tema central nas relações internacionais, especialmente em meio a recentes desenvolvimentos geopolíticos. Mais de 140 dos 193 estados membros da Organização das Nações Unidas (ONU) já reconhecem a Palestina como um estado independente. Este movimento diplomático, que tem ganhado novo ímpeto nos últimos meses, reflete um apoio crescente à autodeterminação palestina e à solução de dois estados como caminho para a paz na região.

Desde o início do conflito em Gaza, em outubro de 2023, vários países anunciaram ou efetivaram o reconhecimento do Estado da Palestina. Este grupo inclui nações como Espanha, Irlanda, Noruega e Eslovênia, que se juntaram a uma lista já extensa de países da África, Ásia, América Latina e Europa Oriental que há muito tempo reconhecem a Palestina. A decisão desses países ocidentais, em particular, marca uma mudança notável na postura diplomática e política em relação ao conflito israelo-palestino.

A Base do Reconhecimento Internacional

O conceito de estado no direito internacional é frequentemente associado aos critérios estabelecidos pela Convenção de Montevidéu de 1933. Estes critérios incluem uma população permanente, um território definido, um governo e a capacidade de entrar em relações com outros estados. No entanto, o reconhecimento de um estado é, em grande parte, um ato político e discricionário de outros estados, e não uma mera aplicação de critérios legais.

Para a Palestina, o reconhecimento internacional é visto como uma afirmação de seu direito à autodeterminação e à soberania. A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) declarou a independência do Estado da Palestina em 15 de novembro de 1988, em Argel, com base na Resolução 181 (II) da Assembleia Geral da ONU de 1947, que propunha a partição da Palestina em estados árabe e judeu. Esta declaração foi rapidamente reconhecida por dezenas de países.

O reconhecimento não implica necessariamente que o estado reconhecido possua controle efetivo sobre todo o seu território reivindicado ou que suas fronteiras sejam universalmente aceitas. No caso da Palestina, as fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como capital, são a base para a maioria das propostas de solução de dois estados e para o reconhecimento internacional.

O Que Significa o Reconhecimento para a Palestina

O reconhecimento de um estado tem implicações significativas em várias esferas, embora não garanta a criação imediata de um estado plenamente funcional ou a resolução de conflitos territoriais.

Legitimidade e Status Diplomático

O reconhecimento internacional confere legitimidade à reivindicação palestina de estado. Permite que a Palestina estabeleça relações diplomáticas plenas, incluindo o intercâmbio de embaixadores e a participação em organizações internacionais. Atualmente, a Palestina mantém missões diplomáticas em muitos países que a reconhecem e é membro de diversas agências da ONU, como a UNESCO e o Tribunal Penal Internacional (TPI).

Status na Organização das Nações Unidas

Desde 2012, a Palestina possui o status de “estado observador não-membro” na ONU, o que lhe permite participar de debates e votações na Assembleia Geral, mas sem direito a voto em questões substantivas ou a ser membro pleno do Conselho de Segurança. A busca pela adesão plena como estado membro da ONU é um objetivo central da diplomacia palestina. Para se tornar um membro pleno, a Palestina precisaria de uma recomendação do Conselho de Segurança da ONU (onde qualquer um dos cinco membros permanentes pode vetar) e, posteriormente, uma aprovação de dois terços da Assembleia Geral.

Apoio Político e Econômico

O reconhecimento pode abrir portas para maior apoio político e econômico. Países que reconhecem a Palestina podem estar mais dispostos a fornecer ajuda financeira, apoio ao desenvolvimento de instituições estatais e a defender os direitos palestinos em fóruns internacionais. Isso também pode fortalecer a posição palestina em negociações futuras, ao reforçar a ideia de que a Palestina é um parceiro igual e soberano.

Pressão para uma Solução de Dois Estados

Para muitos países, o reconhecimento do Estado da Palestina é um passo para preservar a viabilidade da solução de dois estados, que prevê a coexistência de um estado palestino independente ao lado de Israel. Ao reconhecer a Palestina, esses países enviam uma mensagem de que consideram a criação de um estado palestino soberano como essencial para a paz e a segurança duradouras na região. Este movimento também pode ser interpretado como uma forma de pressionar Israel a engajar-se em negociações sérias para uma solução política.

Países que Reconhecem o Estado da Palestina

A maioria dos países que reconhecem a Palestina o fez após a declaração de independência de 1988. Esta lista inclui grande parte do mundo árabe e islâmico, a maioria dos países africanos, asiáticos e latino-americanos, e vários países da Europa Oriental e Central. Recentemente, a lista tem crescido com adições notáveis.

Reconhecimentos Recentes (Pós-Outubro de 2023)

A escalada do conflito em Gaza e a crise humanitária subsequente impulsionaram uma nova onda de reconhecimentos. Entre os países que anunciaram ou efetivaram o reconhecimento nos últimos meses estão:

  • Espanha: Anunciou o reconhecimento em maio de 2024, juntamente com a Irlanda e a Noruega.
  • Irlanda: Seguiu o mesmo caminho da Espanha e Noruega, enfatizando a necessidade de uma solução de dois estados.
  • Noruega: Um defensor de longa data da solução de dois estados, formalizou o reconhecimento em maio de 2024.
  • Eslovênia: O parlamento esloveno aprovou o reconhecimento em junho de 2024.
  • Barbados: Reconheceu a Palestina em abril de 2024.
  • Jamaica: Anunciou o reconhecimento em abril de 2024.
  • Trinidad e Tobago: Reconheceu a Palestina em maio de 2024.
  • Bahamas: Anunciou o reconhecimento em maio de 2024.

Esses reconhecimentos recentes são particularmente significativos porque vêm de países ocidentais e caribenhos, que tradicionalmente mantinham uma postura mais cautelosa ou alinhada com a posição dos Estados Unidos e de Israel, que defendem que o estado palestino deve surgir de negociações diretas.

Países que Não Reconhecem o Estado da Palestina

Um número menor, mas influente, de países ainda não reconhece o Estado da Palestina. Este grupo inclui os Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão, Coreia do Sul e a maioria dos países da Europa Ocidental (antes dos recentes reconhecimentos). A posição desses países geralmente se baseia na crença de que o reconhecimento deve ser o resultado de um acordo negociado entre israelenses e palestinos, e não um ato unilateral.

Os Estados Unidos, em particular, têm sido um forte opositor ao reconhecimento unilateral da Palestina, argumentando que isso prejudicaria as perspectivas de paz e segurança para Israel. A política americana tem sido historicamente focada em facilitar negociações diretas entre as partes, com o objetivo de alcançar uma solução de dois estados que garanta a segurança de Israel e a autodeterminação palestina.

O Contexto Geopolítico Atual

A guerra em Gaza, que começou após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, intensificou o debate global sobre o futuro da Palestina. A crise humanitária e o elevado número de vítimas civis levaram a um aumento da pressão internacional por um cessar-fogo e por uma solução política duradoura. Neste cenário, o reconhecimento do Estado da Palestina por mais países é visto por muitos como uma resposta à urgência da situação e uma forma de reafirmar o direito palestino à existência.

A decisão de países europeus como Espanha, Irlanda e Noruega é um sinal de que a postura tradicional de esperar por um acordo negociado está sendo reavaliada por alguns. Esses países argumentam que o reconhecimento é um passo necessário para impulsionar o processo de paz e para dar esperança ao povo palestino, além de ser um ato de justiça.

Desafios e Perspectivas Futuras

Embora o reconhecimento internacional seja um marco diplomático importante, ele não resolve por si só os desafios complexos que a criação de um estado palestino enfrenta. Questões como as fronteiras finais, o status de Jerusalém, os assentamentos israelenses, a segurança e o direito de retorno dos refugiados palestinos permanecem como obstáculos significativos que exigem negociações diretas e um acordo abrangente.

O reconhecimento, no entanto, fortalece a posição palestina no cenário internacional e pode aumentar a pressão sobre as partes envolvidas para que retomem as negociações de paz com base na solução de dois estados. Ele também serve como um lembrete constante da aspiração palestina por soberania e autodeterminação, um direito fundamental reconhecido pelo direito internacional.

A contínua onda de reconhecimentos reflete uma crescente convicção internacional de que a criação de um estado palestino viável e soberano é indispensável para a estabilidade e a paz na região. Este movimento diplomático, embora não seja uma solução mágica, é um passo significativo na longa jornada do povo palestino em busca de seu próprio estado.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c5ylw7q7n85o?at_medium=RSS&at_campaign=rss

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