Scientists are building cyborg jellyfish to explore ocean depths

As águas oceânicas enfrentam um aquecimento progressivo, um fenômeno diretamente ligado às mudanças climáticas globais. Paralelamente, a absorção de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera tem levado à acidificação dos oceanos, alterando significativamente a química marinha. Essas transformações representam uma ameaça substancial a diversas espécies marinhas e ecossistemas complexos. O monitoramento contínuo e detalhado dessas alterações é, portanto, de importância vital para a compreensão e mitigação de seus impactos.

No entanto, alcançar as vastas e inexploradas profundezas oceânicas para coletar dados precisos apresenta desafios logísticos e financeiros consideráveis. Equipamentos tradicionais de exploração submarina, como veículos operados remotamente (ROVs) e submersíveis tripulados, são frequentemente caros para desenvolver, operar e manter, além de possuírem limitações de tempo de missão e alcance. Nesse contexto, a natureza oferece uma solução inesperada: as medusas-da-lua (Aurelia aurita), criaturas marinhas que habitam naturalmente essas profundezas, surgem como potenciais aliadas na busca por dados cruciais sobre o oceano profundo.

A Inovação dos Biohíbridos Submarinos

Pesquisadores da Universidade do Colorado em Boulder (CU Boulder) desenvolveram uma abordagem inovadora para superar as barreiras da exploração oceânica. Eles criaram medusas “ciborgues”, integrando minúsculos dispositivos microeletrônicos a esses organismos marinhos. O objetivo principal é equipar essas criaturas com a capacidade de coletar dados críticos, como temperatura, acidez (pH) e outras propriedades ambientais relevantes, diretamente de seus habitats naturais.

A escolha das medusas-da-lua não foi aleatória. Sua fisiologia simples, ausência de um sistema nervoso central complexo e sua capacidade inata de navegar eficientemente em ambientes aquáticos profundos as tornam candidatas ideais para essa fusão biotecnológica. A integração dos dispositivos é projetada para ser minimamente invasiva, permitindo que as medusas continuem suas funções biológicas essenciais enquanto atuam como plataformas de coleta de dados.

Os microdispositivos implantados são projetados para registrar uma série de parâmetros ambientais. Sensores de temperatura fornecem informações sobre as variações térmicas nas diferentes camadas da coluna d’água, um indicador chave das mudanças climáticas. Sensores de pH monitoram a acidificação, revelando como a absorção de CO2 está alterando a química oceânica. Além desses, outros sensores podem ser incorporados para medir salinidade, pressão e níveis de oxigênio dissolvido, oferecendo um perfil ambiental abrangente das profundezas exploradas.

A capacidade de controlar o movimento dessas medusas ciborgues é um aspecto fundamental da pesquisa. Isso é alcançado através da aplicação de impulsos elétricos suaves aos músculos da medusa, estimulando-as a nadar em direções específicas ou a manter uma profundidade desejada. Essa técnica permite que os pesquisadores guiem as medusas para áreas de interesse particular, otimizando a coleta de dados em regiões estratégicas do oceano profundo.

A Biomecânica da Propulsão das Medusas

Para aprimorar ainda mais suas criações híbridas, a equipe de pesquisa tem se dedicado ao estudo aprofundado da biomecânica da natação das medusas. Compreender como esses organismos se movem de forma tão eficiente através da água é crucial para otimizar o design e a funcionalidade dos dispositivos microeletrônicos e aprimorar o controle dos biohíbridos. A eficiência energética da propulsão das medusas é notável, e replicar ou amplificar essa característica em sistemas artificiais ou biohíbridos pode revolucionar a robótica submarina.

A pesquisa envolve a análise detalhada dos padrões de fluxo de água gerados pelas medusas enquanto nadam. Para isso, os cientistas utilizam partículas biodegradáveis de amido suspensas na água. A observação do movimento dessas partículas permite visualizar e quantificar os vórtices e correntes criados pela contração e relaxamento do sino da medusa. Esses padrões de fluxo fornecem informações valiosas sobre a geração de empuxo e a eficiência hidrodinâmica.

Os resultados dessa investigação biomecânica são descritos em um artigo recente publicado no periódico *Physical Review Fluids*. A compreensão aprofundada de como as medusas manipulam o fluido ao seu redor para se impulsionar pode levar ao desenvolvimento de algoritmos de controle mais sofisticados e à otimização da forma e do posicionamento dos microdispositivos, minimizando o arrasto e maximizando a eficiência de natação das medusas ciborgues.

O Campo dos Biohíbridos: Uma Perspectiva Histórica

A criação de criaturas biohíbridas não é um campo novo na ciência, mas sim uma área de pesquisa bem estabelecida e em constante evolução. A fusão de componentes biológicos com sistemas tecnológicos tem sido explorada por décadas, com o objetivo de aproveitar as vantagens inerentes dos organismos vivos, como eficiência energética, capacidade de adaptação e resiliência, combinando-as com a precisão e a capacidade de processamento de dados da eletrônica.

Um exemplo notável e historicamente relevante é o interesse dos cientistas em insetos ciborgues desde a década de 1990. Pesquisadores começaram a implantar minúsculos eletrodos nas antenas de baratas, aplicando choques elétricos para direcionar seus movimentos. A ideia por trás desses experimentos era utilizar esses insetos como robôs híbridos para aplicações em busca e resgate, onde sua capacidade de navegar em espaços confinados e sua resistência natural poderiam ser vantajosas.

A escolha de organismos com sistemas nervosos mais simples, como insetos e medusas, é frequentemente uma consideração ética importante nesse campo. A ausência de estruturas cerebrais complexas e a percepção limitada de dor nesses organismos são fatores que os tornam alvos mais aceitáveis para a integração de dispositivos eletrônicos, em comparação com animais vertebrados ou com sistemas nervosos mais desenvolvidos. Além disso, a natureza temporária e reversível de muitas dessas integrações é um foco contínuo da pesquisa.

A Importância do Monitoramento Oceânico Profundo

O monitoramento das profundezas oceânicas é fundamental por várias razões interligadas. As águas profundas atuam como um vasto reservatório de calor e carbono, desempenhando um papel crucial na regulação do clima global. As mudanças em suas propriedades físicas e químicas podem ter repercussões em escala planetária, afetando padrões climáticos, correntes oceânicas e a distribuição de nutrientes.

A coleta de dados em tempo real e de longo prazo nessas regiões permite que os cientistas construam modelos climáticos mais precisos, prevejam tendências ambientais e avaliem o impacto das atividades humanas. Além disso, as profundezas oceânicas abrigam uma biodiversidade extraordinária e muitas vezes desconhecida. O monitoramento ambiental ajuda a proteger esses ecossistemas frágeis e a identificar novas espécies e processos biológicos que podem ter implicações significativas para a biotecnologia e a medicina.

As medusas ciborgues oferecem uma alternativa promissora aos métodos de monitoramento tradicionais, que são frequentemente limitados por custos, autonomia e a necessidade de infraestrutura de apoio. A capacidade de implantar uma rede de sensores biológicos autônomos e de baixo custo pode revolucionar a oceanografia, permitindo uma coleta de dados mais abrangente e contínua em áreas remotas e de difícil acesso.

Perspectivas e Contribuições

A pesquisa da Universidade do Colorado em Boulder representa um avanço significativo na área de biohíbridos e na exploração oceânica. Ao combinar a biologia natural das medusas com a tecnologia de microeletrônica, os cientistas estão abrindo novas avenidas para o estudo do oceano profundo e para a compreensão das complexas interações entre as mudanças climáticas e os ecossistemas marinhos.

O desenvolvimento de medusas ciborgues equipadas com sensores avançados e aprimoradas por uma compreensão aprofundada de sua biomecânica de natação promete fornecer dados ambientais de alta resolução e em larga escala. Essa abordagem pode levar a uma nova geração de plataformas de monitoramento oceânico, mais eficientes, sustentáveis e menos intrusivas, contribuindo para um conhecimento mais completo e em tempo real dos nossos oceanos e para a formulação de estratégias de conservação mais eficazes.

Fonte: https://arstechnica.com/science/2025/08/scientists-are-building-cyborg-jellyfish-to-explore-ocean-depths/

Para seguir a cobertura, veja também scientists.

Deixe um comentário