O Departamento de Serviços de Saúde do Estado do Texas (TDSHS) anunciou o fim de um significativo surto de sarampo que afetou 762 pessoas no estado. A declaração foi feita após um período de mais de 42 dias sem o registro de novos casos em qualquer um dos condados que anteriormente apresentavam evidências de transmissão contínua da doença. Este intervalo de 42 dias corresponde a dois períodos de incubação do vírus do sarampo, um critério padrão utilizado pelas autoridades de saúde pública para declarar o fim de um surto.
O surto no Texas, que teve início em janeiro, contribuiu para que o ano atual se tornasse o pior em termos de casos de sarampo nos Estados Unidos em mais de três décadas. De acordo com a atualização mais recente dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), divulgada em 5 de agosto, um total de 1.356 casos confirmados de sarampo foram notificados em todo o país neste ano. Em comparação, o ano de 2024 registrou apenas 285 casos de sarampo, evidenciando o aumento expressivo da incidência da doença.
A origem do surto no Texas foi identificada em uma comunidade menonita rural, caracterizada por baixas taxas de vacinação. A maioria dos casos notificados no estado, mais de dois terços, ocorreu em crianças. O surto resultou em desfechos graves, incluindo a hospitalização de 99 pessoas, o que representa 13% do total de casos. Lamentavelmente, duas crianças no Texas faleceram em decorrência do vírus. Ambas não eram vacinadas e não apresentavam condições de saúde subjacentes conhecidas que pudessem agravar a doença.
O Vírus do Sarampo e Sua Transmissão
O sarampo é uma doença infecciosa aguda e altamente contagiosa, causada por um vírus da família Paramyxoviridae. A transmissão ocorre principalmente por meio de gotículas respiratórias liberadas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra. O vírus pode permanecer ativo no ar ou em superfícies por até duas horas, tornando-o um dos patógenos mais facilmente transmissíveis. Uma pessoa com sarampo pode infectar até 90% das pessoas suscetíveis (não vacinadas ou que nunca tiveram a doença) com quem tem contato próximo.
Os sintomas iniciais do sarampo geralmente aparecem de 10 a 12 dias após a exposição ao vírus e incluem febre alta, tosse, coriza, olhos vermelhos e lacrimejantes (conjuntivite). Após alguns dias, pequenas manchas brancas com centros branco-azulados (manchas de Koplik) podem surgir na parte interna da boca. Cerca de três a cinco dias após o início dos sintomas, uma erupção cutânea característica, composta por manchas avermelhadas e planas, aparece no rosto e se espalha para o resto do corpo, incluindo o tronco, braços e pernas.
A fase de maior contágio ocorre nos quatro dias anteriores ao aparecimento da erupção cutânea e nos quatro dias seguintes. A identificação precoce e o isolamento de casos são cruciais para conter a propagação do vírus, especialmente em comunidades com baixa cobertura vacinal, onde a doença pode se disseminar rapidamente.
A Importância Crítica da Vacinação
A vacinação é a ferramenta mais eficaz e segura para prevenir o sarampo. A vacina tríplice viral (SCR ou MMR), que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, é altamente eficaz na prevenção da doença. Duas doses da vacina são recomendadas para garantir proteção duradoura. A primeira dose é geralmente administrada entre 12 e 15 meses de idade, e a segunda dose entre 4 e 6 anos.
A alta cobertura vacinal em uma comunidade é fundamental para estabelecer a chamada “imunidade de rebanho” ou “imunidade coletiva”. Este fenômeno ocorre quando uma proporção significativa da população está imunizada, dificultando a circulação do vírus e protegendo indiretamente aqueles que não podem ser vacinados (como bebês muito jovens, pessoas com certas condições médicas ou imunocomprometidos). A queda nas taxas de vacinação, como observado na comunidade onde o surto do Texas começou, cria lacunas na imunidade coletiva, tornando a população vulnerável à reintrodução e disseminação de doenças que são preveníveis por vacina.
A reintrodução do sarampo em áreas com baixa cobertura vacinal é um lembrete constante da importância de manter programas de vacinação robustos e acessíveis. A hesitação vacinal e a disseminação de informações incorretas sobre as vacinas representam desafios significativos para a saúde pública global, contribuindo para o ressurgimento de doenças que já haviam sido controladas ou eliminadas em muitas regiões.
Impacto Nacional e Contexto Histórico do Sarampo nos EUA
O surto no Texas reflete uma tendência preocupante de aumento de casos de sarampo nos Estados Unidos. O número de 1.356 casos confirmados até 5 de agosto deste ano representa o maior total em mais de 30 anos. Este cenário contrasta fortemente com o status de eliminação do sarampo nos EUA, declarado em 2000 pelo CDC. A eliminação significava que a doença não era mais endêmica no país, ou seja, a transmissão contínua do vírus havia sido interrompida por mais de 12 meses.
No entanto, a eliminação não significa erradicação global. O sarampo continua a circular em muitas partes do mundo. Casos nos EUA desde 2000 têm sido predominantemente importados por viajantes não vacinados que contraem a doença no exterior e a trazem para o país. A partir daí, o vírus pode se espalhar para comunidades com baixas taxas de vacinação, resultando em surtos localizados.
A comparação com os 285 casos registrados em 2024 ilustra a magnitude do aumento observado. Este ressurgimento é atribuído a uma combinação de fatores, incluindo o declínio nas taxas de vacinação em certas comunidades e o aumento das viagens internacionais, que facilitam a importação do vírus. A vigilância contínua e a manutenção de altas taxas de vacinação são essenciais para prevenir futuros surtos e proteger a saúde pública.
A Resposta da Saúde Pública a um Surto
A gestão de um surto de sarampo envolve uma série de ações coordenadas por parte das autoridades de saúde pública, como o Departamento de Serviços de Saúde do Estado do Texas e o CDC. A resposta típica inclui:
Vigilância e Confirmação de Casos
A detecção rápida de casos suspeitos é o primeiro passo. Os profissionais de saúde são alertados para os sintomas do sarampo e para a importância da notificação imediata. Amostras são coletadas e enviadas para laboratórios para confirmação diagnóstica, o que é crucial para diferenciar o sarampo de outras doenças com sintomas semelhantes.
Investigação Epidemiológica e Rastreamento de Contatos
Uma vez confirmado um caso, uma investigação detalhada é iniciada para identificar a fonte da infecção e todas as pessoas que tiveram contato com o paciente durante o período de contágio. O rastreamento de contatos é intensivo e visa identificar indivíduos suscetíveis que podem ter sido expostos ao vírus. Esses contatos são monitorados para o desenvolvimento de sintomas e, se necessário, são aconselhados a se isolar para evitar a propagação da doença.
Medidas de Controle e Prevenção
As medidas de controle incluem o isolamento de casos confirmados para evitar a transmissão. Para os contatos não vacinados, a vacinação pós-exposição com a vacina SCR ou a administração de imunoglobulina (para indivíduos de alto risco) pode ser recomendada para prevenir ou atenuar a doença. Campanhas de vacinação direcionadas são frequentemente implementadas nas comunidades afetadas para aumentar a cobertura vacinal e criar uma barreira contra a disseminação do vírus.
Comunicação e Educação Pública
As autoridades de saúde desempenham um papel vital na comunicação transparente com o público. Isso inclui fornecer informações precisas sobre o surto, os riscos do sarampo, a importância da vacinação e as medidas que os indivíduos podem tomar para se proteger e proteger suas comunidades. A educação pública visa combater a desinformação e promover a adesão às recomendações de saúde.
Complicações do Sarampo
Embora o sarampo seja frequentemente considerado uma doença infantil comum, ele pode levar a complicações graves e potencialmente fatais, especialmente em crianças pequenas, adultos e pessoas com sistemas imunológicos comprometidos. As complicações mais comuns incluem:
- Infecções de ouvido (otite média): Uma das complicações mais frequentes, podendo levar à perda auditiva.
- Diarreia grave e desidratação: Especialmente em crianças pequenas, pode ser grave.
- Pneumonia: Uma infecção pulmonar que é a causa mais comum de morte relacionada ao sarampo em crianças pequenas.
- Encefalite: Uma inflamação do cérebro que pode levar a convulsões, surdez ou deficiência intelectual. Embora rara, é uma complicação grave.
- Cegueira: Em casos de deficiência de vitamina A, o sarampo pode causar danos oculares graves.
- Panencefalite Esclerosante Subaguda (PESA): Uma complicação neurológica rara, mas fatal, que pode se desenvolver anos após a infecção inicial por sarampo, mesmo que a pessoa tenha se recuperado aparentemente da doença.
As hospitalizações e os óbitos registrados no surto do Texas, incluindo as duas crianças não vacinadas que faleceram, sublinham a gravidade potencial do sarampo e a necessidade imperativa de prevenção através da vacinação.
Prevenção e Vigilância Contínua
O fim do surto de sarampo no Texas é um marco importante, mas a ameaça da doença persiste enquanto houver populações suscetíveis e o vírus circular globalmente. A prevenção continua sendo a pedra angular da estratégia de saúde pública contra o sarampo. Isso envolve garantir que as taxas de vacinação permaneçam altas em todas as comunidades, especialmente entre crianças, para manter a imunidade de rebanho e proteger os mais vulneráveis.
A vigilância contínua por parte das agências de saúde, como o TDSHS e o CDC, é essencial para monitorar a ocorrência de novos casos, investigar rapidamente qualquer suspeita de surto e implementar medidas de controle eficazes. A colaboração entre autoridades de saúde, profissionais médicos e a comunidade é fundamental para sustentar os ganhos na luta contra o sarampo e prevenir futuros ressurgimentos desta doença altamente evitável.
Fonte: https://arstechnica.com/health/2025/08/the-west-texas-measles-outbreak-has-ended/
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