A Casa Branca, sob a administração do Presidente Donald Trump, estabeleceu uma presença oficial na plataforma de vídeos curtos TikTok, lançando a conta @WhiteHouse. A primeira publicação ocorreu na noite de terça-feira, apresentando um vídeo que destacava realizações da administração. Este desenvolvimento surge num contexto de intensos debates e ações legislativas nos Estados Unidos relativas ao futuro do TikTok no país, dada a sua propriedade pela empresa chinesa ByteDance.
A decisão de aderir à plataforma ocorre enquanto a administração Trump enfrenta um prazo iminente para a concretização de um acordo que permita ao TikTok continuar a operar legalmente nos Estados Unidos. A data limite atual para a venda da participação da ByteDance é 17 de setembro, conforme estipulado por uma legislação anterior. A adesão da Casa Branca ao TikTok sublinha a complexidade da relação entre a plataforma e o governo dos EUA, que tem sido marcada por tentativas de proibição e adiamentos.
O Cenário Regulatório do TikTok nos EUA
A trajetória do TikTok nos Estados Unidos tem sido pontuada por preocupações significativas de segurança nacional e privacidade de dados. As autoridades americanas, incluindo membros do Congresso e agências de inteligência, expressaram repetidamente receios de que o governo chinês pudesse aceder a dados de utilizadores americanos ou influenciar o conteúdo exibido na plataforma, dadas as leis de segurança nacional da China que poderiam compelir a ByteDance a cooperar com Pequim.
Foi o Presidente Joe Biden quem sancionou a lei que exige que a ByteDance venda as suas operações nos EUA ou enfrente uma proibição nacional. Esta legislação, aprovada com apoio bipartidário, reflete uma consolidação das preocupações que se arrastam há vários anos. A lei estabelece um mecanismo claro para a desinvestidura, com o objetivo de mitigar os riscos percebidos para a segurança dos dados dos cidadãos americanos e para a integridade da informação.
Apesar da assinatura da lei por Biden, a responsabilidade pela execução e pela negociação de um potencial acordo de venda recaiu sobre a administração subsequente, liderada por Donald Trump. A promessa de Trump de facilitar um acordo para manter o TikTok em funcionamento nos EUA ainda não foi cumprida, e a plataforma continua a operar sob a ameaça de uma interdição se a venda não se concretizar até ao prazo estabelecido.
Adiamentos da Proibição do TikTok
A implementação de uma proibição efetiva do TikTok nos EUA tem sido adiada em múltiplas ocasiões, refletindo a complexidade legal e política da situação. A plataforma foi, de facto, encerrada nos EUA por apenas um dia, um período excecionalmente curto, antes que os adiamentos entrassem em vigor.
O primeiro adiamento ocorreu em janeiro, logo após Donald Trump assumir a presidência. Uma ordem executiva foi assinada, atrasando a aplicação da proibição por 75 dias. Esta ação sinalizou uma mudança na abordagem da nova administração em relação à plataforma, em contraste com as tentativas anteriores de proibição.
Um segundo adiamento foi observado em abril. Este período foi marcado por negociações para um potencial acordo de venda que, segundo relatos, não avançou devido às tarifas impostas por Trump contra a China. As relações comerciais entre os dois países têm sido um fator constante nas discussões sobre o TikTok, com as políticas tarifárias a influenciarem o ambiente para transações de grande escala.
O terceiro adiamento ocorreu em junho. Naquela ocasião, o Presidente Trump expressou a sua crença de que o Presidente chinês Xi Jinping estaria aberto a um acordo, caso um comprador adequado surgisse para as operações do TikTok nos EUA. Esta declaração indicou uma persistência na busca por uma solução que evitasse a proibição total da plataforma, mantendo a porta aberta para negociações.
A Evolução da Posição de Donald Trump sobre o TikTok
A postura de Donald Trump em relação ao TikTok tem demonstrado uma notável evolução ao longo do tempo. Em 2020, durante a sua primeira administração, Trump tentou ativamente proibir o TikTok nos Estados Unidos, citando preocupações de segurança nacional. Foram emitidas ordens executivas visando a restrição das operações da ByteDance no país, refletindo uma linha dura contra empresas de tecnologia chinesas.
No entanto, a sua posição começou a suavizar-se significativamente durante a sua campanha de reeleição. Esta mudança de perspetiva foi influenciada pela perceção da vasta base de apoiantes que Trump possuía na plataforma. A equipa de campanha reconheceu o potencial do TikTok como uma ferramenta de comunicação e mobilização eleitoral, especialmente entre os eleitores mais jovens e os influenciadores que apoiavam a sua candidatura.
O Sucesso da Campanha Trump no TikTok
Em 2024, a campanha de Donald Trump lançou a sua conta oficial no TikTok, @TeamTrump. A conta rapidamente estabeleceu uma presença dominante na plataforma, superando em grande medida outras campanhas políticas em termos de alcance e engajamento. Dados reportados pelo jornalista Kyle Tharp indicaram que a conta @TeamTrump acumulou 2,8 mil milhões de visualizações, em comparação com 2,2 mil milhões da conta de campanha da então Vice-Presidente Kamala Harris, que se tornou inativa.
Um operador digital republicano, próximo da campanha, atribuiu grande parte deste sucesso à capacidade de Trump de gerar momentos que captam a atenção e se transformam em conteúdo viral. A sua experiência anterior como estrela de reality TV foi apontada como um fator que contribuiu para a sua aptidão em criar conteúdo envolvente e partilhável. A natureza do TikTok, que privilegia o entretenimento e a viralidade, alinhou-se com o estilo de comunicação de Trump, permitindo que a sua mensagem atingisse um público amplo e diversificado.
A estratégia digital da campanha republicana no TikTok foi descrita como significativamente mais astuta em comparação com a dos seus oponentes. A compreensão de que o TikTok funciona primariamente como uma aplicação de entretenimento permitiu à equipa de Trump adaptar o seu conteúdo para maximizar o engajamento e a disseminação viral, transformando momentos políticos em fenómenos culturais na plataforma.
A Utilidade do TikTok para a Administração Trump
Apesar das questões legais e dos debates sobre os motivos subjacentes a uma potencial proibição do TikTok, a administração Trump, por enquanto, parece encontrar utilidade em manter uma conta na plataforma. Esta abordagem pragmática reflete o reconhecimento do TikTok como um canal de comunicação eficaz e de grande alcance.
Em janeiro, Donald Trump questionou publicamente a lógica de eliminar o TikTok, partilhando uma publicação na Truth Social que destacava os milhares de milhões de visualizações que a sua conta de campanha continuava a acumular. Esta declaração sublinhou a sua valorização da plataforma como um meio para alcançar e mobilizar os seus apoiantes.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, reiterou esta posição após o lançamento da conta oficial do governo no TikTok. Em comunicado, Leavitt afirmou que “a mensagem do Presidente Trump dominou o TikTok durante a sua campanha presidencial” e expressou entusiasmo em “construir sobre esses sucessos e comunicar de uma forma que nenhuma outra administração fez antes”.
Esta perspetiva indica que a administração vê o TikTok não apenas como uma ferramenta de campanha, mas também como um canal legítimo para a comunicação governamental. A capacidade de alcançar diretamente milhões de cidadãos, especialmente demografias mais jovens que podem não consumir notícias através de meios tradicionais, é um fator atrativo para qualquer administração.
A presença da Casa Branca no TikTok pode ser interpretada como um esforço para modernizar a comunicação governamental e adaptar-se aos hábitos de consumo de informação do público. Ao utilizar uma plataforma popular para partilhar informações sobre as suas iniciativas e realizações, a administração procura estabelecer uma ligação mais direta e informal com os cidadãos, contornando, em alguns casos, os meios de comunicação tradicionais.
O Futuro do TikTok e a Comunicação Governamental
A situação do TikTok nos Estados Unidos permanece fluida, com o prazo de 17 de setembro para a venda da ByteDance a aproximar-se. As discussões sobre a legalidade da lei de proibição e as complexidades de uma potencial desinvestidura continuam a ser pontos centrais no debate público e jurídico. Enquanto isso, a decisão da Casa Branca de se juntar à plataforma adiciona uma nova camada à narrativa, demonstrando a sua relevância contínua como um meio de comunicação.
A utilização de plataformas de redes sociais por governos e figuras políticas não é um fenómeno novo, mas a adesão da Casa Branca ao TikTok, dadas as controvérsias em torno da plataforma, é notável. Reflete uma adaptação às tendências digitais e um reconhecimento do poder de alcance e influência do TikTok na formação da opinião pública e na disseminação de informações.
Independentemente do desfecho das questões regulatórias, a presença da Casa Branca no TikTok ilustra a crescente importância das plataformas digitais na estratégia de comunicação de qualquer administração. A capacidade de transmitir mensagens diretamente aos cidadãos, de forma envolvente e acessível, tornou-se um componente essencial da governança moderna. A evolução da relação entre o governo dos EUA e o TikTok continuará a ser um ponto de observação para a interseção entre tecnologia, política e comunicação.
Fonte: https://www.theverge.com/politics/762031/trump-white-house-tiktok-account
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