Why wind farms attract so much misinformation and conspiracy theory

A energia eólica, uma fonte de energia renovável em crescente implementação global, tem sido consistentemente associada a um conjunto de alegações, desinformação e teorias da conspiração. Estas narrativas, que circulam em diversas plataformas e comunidades, abrangem desde supostos impactos na saúde humana e na vida selvagem até questões económicas e estéticas. A persistência e a difusão destas alegações formam um padrão global de preocupações em torno das energias renováveis, com particular foco nos parques eólicos.

Este fenómeno reflete uma complexa interação de fatores, incluindo a desconfiança em instituições, a nostalgia por modelos energéticos estabelecidos e uma resistência a mudanças significativas no panorama tecnológico e ambiental. A disseminação destas narrativas observa-se em diferentes contextos geográficos e culturais, evidenciando uma base comum de preocupações e a forma como estas são articuladas em oposição a projetos de energia eólica.

Alegações Comuns sobre Impactos na Saúde

Uma das áreas mais proeminentes de desinformação e teorias da conspiração em torno dos parques eólicos diz respeito aos supostos impactos na saúde humana. Estas narrativas descrevem uma série de sintomas e condições atribuídas à proximidade das turbinas eólicas.

Síndrome da Turbina Eólica

Entre as alegações mais difundidas está a existência de uma “Síndrome da Turbina Eólica”. Os proponentes desta teoria descrevem sintomas como dores de cabeça, tonturas, náuseas, problemas de sono, zumbido nos ouvidos, irritabilidade, dificuldade de concentração e fadiga. Afirma-se que estes sintomas são desencadeados pela exposição prolongada ao ruído audível e, principalmente, ao infrassom emitido pelas turbinas eólicas.

Infrassom e Baixa Frequência

As teorias sobre o infrassom postulam que as ondas sonoras de baixa frequência, inaudíveis para o ouvido humano, penetram nas estruturas corporais e causam perturbações fisiológicas. Alega-se que, mesmo sem serem percebidas conscientemente, estas vibrações podem afetar o sistema nervoso, o sistema vestibular e órgãos internos, levando aos sintomas descritos na “Síndrome da Turbina Eólica”. A preocupação com o infrassom é frequentemente citada como uma razão para estabelecer distâncias mínimas de segurança entre as turbinas e as habitações, com algumas narrativas sugerindo que as vibrações podem causar danos estruturais em edifícios ou afetar a saúde mental.

Flicker de Sombra

Outra preocupação levantada é o “flicker de sombra”, que ocorre quando as pás das turbinas em movimento projetam sombras intermitentes sobre casas e terrenos. Alega-se que esta intermitência visual pode causar desconforto, irritação, e em casos extremos, desencadear crises em indivíduos sensíveis à luz, como aqueles com epilepsia. As narrativas sugerem que o flicker de sombra contribui para o stress, a ansiedade e a diminuição da qualidade de vida nas comunidades próximas, afetando o bem-estar psicológico dos residentes.

Outras Alegações de Saúde

Além das preocupações com o ruído e o flicker, circulam alegações sobre outros impactos na saúde, como o aumento do risco de cancro, problemas cardíacos, e até mesmo a interferência com dispositivos médicos implantados. Estas teorias frequentemente carecem de base científica reconhecida, mas persistem em comunidades onde a oposição aos parques eólicos é forte, contribuindo para a ansiedade e o medo entre os residentes.

Preocupações Ambientais e de Vida Selvagem

As teorias da conspiração e a desinformação também se estendem aos supostos impactos ambientais e na vida selvagem dos parques eólicos, muitas vezes exagerando ou distorcendo os efeitos conhecidos.

Mortalidade de Aves e Morcegos

Uma das alegações mais persistentes é a de que as turbinas eólicas causam a morte em massa de aves e morcegos. Embora seja reconhecido que as turbinas podem, de facto, causar mortalidade de algumas espécies, as narrativas de desinformação frequentemente exageram a escala do problema, sugerindo que os parques eólicos são os principais responsáveis pelo declínio populacional de aves e morcegos, superando outras causas como a perda de habitat, a agricultura intensiva ou a predação por animais domésticos. Alega-se que as turbinas são “moinhos de carne” para a vida selvagem, ignorando medidas de mitigação e estudos comparativos.

Impacto na Vida Marinha

Com a expansão dos parques eólicos offshore, surgiram novas alegações sobre o impacto na vida marinha. Teorias circulam que o ruído da construção e operação das turbinas, incluindo o uso de sonar para mapeamento do fundo do mar, perturba os padrões de migração e comunicação de mamíferos marinhos, como as baleias. Alega-se que este ruído pode levar as baleias a ficarem “loucas”, desorientadas e a encalhar em praias. Estas narrativas frequentemente associam eventos de encalhe de baleias a projetos eólicos específicos, sem evidências científicas diretas que comprovem a causalidade.

Destruição de Habitat e Paisagem

Outras preocupações ambientais incluem a alegação de que a construção de parques eólicos resulta na destruição maciça de habitats naturais e na degradação da paisagem. As narrativas sugerem que as fundações das turbinas, as estradas de acesso e as linhas de transmissão fragmentam ecossistemas, afetam a flora e a fauna local e alteram irreversivelmente a beleza natural das áreas. A questão estética, embora subjetiva, é frequentemente enquadrada como um impacto ambiental negativo, com alegações de que as turbinas são “monstros industriais” que desfiguram o campo ou a costa.

Alegações Económicas e Sociais

As teorias da conspiração e a desinformação também abordam os aspetos económicos e sociais dos parques eólicos, muitas vezes com foco em perdas financeiras e injustiças.

Desvalorização de Propriedades

Uma alegação comum é a de que a proximidade de parques eólicos causa uma desvalorização significativa das propriedades residenciais. Narrativas circulam que o ruído, o flicker de sombra e a alteração da paisagem tornam as casas menos desejáveis, levando a perdas financeiras para os proprietários. Estas alegações são frequentemente usadas em campanhas de oposição local para mobilizar residentes contra novos projetos.

Custos de Energia e Fiabilidade

Afirma-se que a energia eólica é uma fonte de energia cara e não fiável, que exige subsídios excessivos e leva a aumentos nas contas de eletricidade dos consumidores. Teorias sugerem que a intermitência da energia eólica (dependência do vento) requer sistemas de backup caros, como centrais a gás, tornando-a ineficiente e economicamente inviável. Alega-se que os governos estão a “empurrar” a energia eólica por motivos ideológicos ou por interesses ocultos, em detrimento de soluções energéticas mais “práticas” e “baratas”.

Perda de Empregos e Impacto na Indústria

Em regiões com forte dependência de indústrias de combustíveis fósseis, circulam narrativas de que a transição para a energia eólica resultará na perda massiva de empregos e no declínio económico. Alega-se que os empregos criados pela energia eólica são temporários ou em menor número do que os perdidos nas indústrias tradicionais, e que a tecnologia eólica é importada, não beneficiando a economia local.

Temas Subjacentes e Fatores de Resonância

A proliferação de desinformação e teorias da conspiração em torno dos parques eólicos não é um fenómeno isolado, mas reflete e explora temas subjacentes mais amplos na sociedade.

Desconfiança em Instituições

Observa-se que a desconfiança generalizada em instituições governamentais, científicas e mediáticas contribui significativamente para a aceitação de narrativas alternativas sobre a energia eólica. Alega-se que governos e grandes corporações estão a ocultar informações sobre os verdadeiros impactos negativos dos parques eólicos, ou que estão a promover a energia eólica por motivos de lucro ou agendas políticas ocultas. Esta desconfiança cria um terreno fértil para teorias que sugerem conspirações e manipulação.

Nostalgia e Resistência à Mudança

A resistência à energia eólica é frequentemente impulsionada por uma nostalgia por modelos energéticos e estilos de vida passados, muitas vezes associados à era dos combustíveis fósseis. A transição para energias renováveis é percebida como uma ameaça a identidades culturais, economias locais e paisagens familiares. A oposição pode surgir de um desejo de preservar o status quo e de uma aversão a mudanças tecnológicas e ambientais de grande escala, que são vistas como intrusivas ou desnecessárias.

Complexidade do Mundo Moderno

A complexidade das questões energéticas, climáticas e tecnológicas no mundo moderno pode levar à procura de explicações simplificadas. As teorias da conspiração oferecem narrativas que, embora infundadas, podem parecer mais acessíveis e coerentes para alguns indivíduos do que as explicações científicas e técnicas complexas. Estas teorias fornecem um enquadramento para entender eventos e mudanças que, de outra forma, poderiam ser percebidos como avassaladores ou incontroláveis.

Polarização Política e Ideológica

A energia eólica e as energias renováveis em geral tornaram-se frequentemente um ponto de polarização política e ideológica. Em alguns contextos, a oposição à energia eólica alinha-se com posições que questionam a ciência das alterações climáticas ou que defendem a primazia das indústrias de combustíveis fósseis. Figuras políticas e grupos de interesse podem amplificar a desinformação sobre os parques eólicos para promover as suas agendas, transformando a questão energética num campo de batalha cultural e político.

Difusão e Persistência da Desinformação

A forma como a desinformação e as teorias da conspiração sobre os parques eólicos se difundem e persistem é um aspeto crucial do fenómeno.

Redes Sociais e Plataformas Online

As redes sociais e outras plataformas online desempenham um papel significativo na disseminação rápida e ampla destas narrativas. A facilidade de partilha, a formação de câmaras de eco e a capacidade de alcançar um público vasto sem verificação factual contribuem para a proliferação de alegações infundadas. Grupos dedicados à oposição a parques eólicos utilizam estas plataformas para organizar, partilhar “evidências” e mobilizar apoio.

Mobilização Comunitária

As alegações sobre impactos na saúde, ambiente e economia são frequentemente mobilizadas em movimentos de oposição comunitária contra projetos de parques eólicos. Estas narrativas fornecem argumentos e um senso de urgência para os residentes que se sentem ameaçados pela construção de turbinas perto das suas casas. A desinformação pode ser usada para inflamar o medo e a raiva, dificultando o diálogo construtivo e a tomada de decisões baseada em factos.

Resistência à Verificação de Factos

Observa-se que, uma vez que estas alegações e teorias se enraízam na visão de mundo de um indivíduo ou comunidade, a verificação de factos e a apresentação de evidências científicas tendem a ser ineficazes na mudança de crenças. As informações que contradizem as narrativas existentes podem ser rejeitadas como parte da “conspiração” ou como propaganda de interesses estabelecidos. Este fenómeno de “backfire effect” contribui para a persistência da desinformação, mesmo perante evidências contrárias.

Em suma, a atração que os parques eólicos exercem sobre a desinformação e as teorias da conspiração é um fenómeno multifacetado, impulsionado por uma combinação de preocupações genuínas, medos infundados e fatores sociais e psicológicos mais amplos. A compreensão da natureza destas alegações e dos mecanismos da sua difusão é fundamental para abordar os desafios associados à transição energética global.

Fonte: https://arstechnica.com/science/2025/08/why-wind-farms-attract-so-much-misinformation-and-conspiracy-theory/

Para seguir a cobertura, veja também misinformation.

Deixe um comentário